sábado, 15 de junho de 2013

Santo Estevão e a festa de Bumba-meu-boi 2013

Festa de Bumba Meu Boi 2013

Apoio cultural da Prefeitura Municipal garante mais um ano de alegria para o folguedo de Bumba-meu-boi em Santo Estevão. Tradicional, o boi Janeiro volta às ruas em mais um ano de festa. É domingo, dia 23 de junho, a partir das 13:00 horas, saindo do Cruzeiro do Monte em cortejo pelo Centro Histórico da Cidade. Não percam!
Abaixo a imagem promocional 2013.



O boi no tempo

O Auto de bumba-meu-boi teve origem no Ciclo do Gado, no século XVIII, e resultou das relações desiguais que existiam entre os escravos e os senhores nas casas grandes e senzalas. Refletia as condições sociais vividas pelos negros e índios à época.
Ele é contado e recontado através dos tempos na tradição oral nordestina.
A lenda da origem do bumba-meu-boi adquire contornos de sátira, comédia, tragédia e drama, dependendo do lugar em que se insere, mas sempre levando em consideração a história de um homem e um boi.
Há um contraste entre a fragilidade do homem e a força bruta do boi.
Existe também uma lenda que conta a história de um vaqueiro de prenome Chico, que para atender o desejo da mulher Catrina que estava grávida, matou o melhor boi que existia na fazenda onde residiam para tirar a língua, sendo necessário o uso de rezas para reviver o boi, caso contrário, o patrão mataria o vaqueiro. Essa é a mais emocionante história, vez que o Auto de Bumba-meu-boi traça os contornos da morte e ressurreição do boi.
Em nossa terra ele recebe o nome de boi JANEIRO.
O bumba-meu-boi tem nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes a depender da região onde é apresentado. Ele é conhecido por Boi-Bumbá, Pavulagem, Boi Calemba, Bumbá, Boi de Reis, Boi Surubim, Boi Zumbi, Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar, Dromedário, Mulinha-de-Ouro, Boi de Mourão, Boi de Mamão, Bumba, Folguedo do Boi, Boizinho, Boi de Jacá e Dança do Boi.
A festa tem quatro momentos: a Entrada ou Juntada, quando os participantes se organizam para sair, o Lá Vai, que é o aviso para o dono da casa ou do lugar indicando que o grupo está chegando, a Licença, que é o pedido para dançar na frente da casa ou lugar escolhido, e por fim a Despedida ou Levanta, que é quando a o grupo sai e segue para outro lugar.

E o bumba meu boi nos ensina a aprender e conviver com a crítica, porque foi ela quem marcou no tempo, há muito, a nossa existência. Veja o que disse o padre pernambucano Miguel do Sacramento Lopes Gama sobre o boi em 1840:

A estultice do bumba-meu-boi

De quantos recreios, folganças e desenfados populares há em nosso Pernambuco, eu não conheço um tão tolo, tão estúpido e destituído de graça como o aliás bem conhecido bumba-meu-boi. Em tal brinco não se encontra nenhum enredo, nem verossimilhança, nem ligação; é um agregado de disparates. Um negro metido debaixo de uma baeta é o boi; um capadócio, enfiado pelo fundo de um panacu velho, chama-se o cavalo-marinho; outro, alapardado sob lençóis, denomina-se burrinha; um menino com duas saias, uma da cintura para baixo, outra para cima, terminando para a cabeça com uma urupema, é o que chama a capoira. Há além disto outro capadócio que se chama o pai Mateus.
O sujeito do cavalo-marinho é o senhor do boi, da burrinha, da caipora e de Mateus. Todo o divertimento cifra-se em o dono de toda esta súcia fazer dançar, ao som de violas, pandeiros e de uma infernal berraria, o tal bêbado Mateus, a burrinha, a caipora, o boi (que com efeito é animal muito ligeirinho, trêfego e bailarino). Além disto o boi morre sempre sem quê nem para quê, e ressuscita por virtude de um clister que pespega o Mateus, coisa muito agradável e divertida para os judiciosos espectadores. Até aqui não passa o tal divertimento de um brinco popular e grandemente desengraçado. Mas de certos anos para cá não há bumba-meu-boi que preste, se nele não aparece um sujeito vestido de clérigo, e algumas vezes de roquete e estola para servir de bobo da função. Quem faz ordinariamente o papel de sacerdote bufo é um brejeirote despejado, e escolhido para desempenhar a tarefa até o mais porco e nojento ridículo. Em um país católico romano consente-se e aplaude-se que na maior publicidade sirva de bobo um bandalho disfarçado em sacerdote, e com as vestimentas do culto. E para complemento de escárnio esse padre bufo ouve de confissão ao Mateus, o qual negro cativo faz cair de pernas ao ar o seu confessor, e acaba, como é natural, dando muita chicotada no sacerdote! Quem acreditará que tal se consinta e aprove em uma província das mais polidas do império? Como é possível ludibriar e escarnear mais o estado sacerdotal? (...) Querem sinal menos equívoco de desprezo e abjeção a que tem chegado entre nós o ministério sagrado, e conseguintemente a religião?
O Carapuceiro, n. 2 (11/01/1840)









Em SANTO ESTEVÃO essa tradição começa por volta de 1943, durante a 2ª guerra mundial. Era uma alegria só quando Bernardino de Inácio, acompanhado de seu filho Pereira (mais conhecido por Sêo Pereira), Conrado, Cezínio (da galinha), João de Eustáquio (já falecidos), Antonio do Morro (residente na Avenida Rio Branco próximo ao Cemitério), Estevão do Morro (primo de Antonio do Morro), Tonho Braga (policial já falecido) e Tonho de Caboclo da Serrinha, este último que dava vida e movimento ao boi (ele era o tripa, como chamamos). As apresentações do bumba-meu-boi ocorriam no centro histórico de Santo Estevão, nas ruas conhecidas por Pulo do Bode, Praça da Lua, Rua do Padre, Rua das Quinze Casas, Rua Benjamin Constant, Praça da Prefeitura e Rua do Cemitério. Era o centro que existia até a metade do século XX. As apresentações dess grupo se seguiram até 1962. Em 1982, Fiim de Inês (neto de Bernardino e filho de Sêo Pereira) juntou-se aos amigos Péu de Pedro Soldado, Djalma de Dolores (Bob), Têvo de Buque e Chico de Inês, dentre outros, retomando as apresentações nas ruas de nossa cidade até 1995. Em 1999 o professor Francisco Anísio (Chico), primo de Fiim de Inês, monta um Bumba-meu-boi para apresentações na Escola Tancredo Neves, onde lecionava. Já no ano de 2005, após iniciar as atividades do bar Vivenda do Monte, Francisco Anísio e seus familiares montam uma apresentação de Bumba-meu-boi, revivendo a saga do boi, saindo do Cruzeiro do Monte, passando pelas ruas do Centro da cidade, indo até a Praça Sete de Setembro onde se realizam os festejos juninos promovidos pela Prefeitura Municipal. Daí em diante não mais parou o festejo. 2013 é mais um ano de festa sob o comando de Chico, acompanhado de seus familiares, Jaí de Dê, Têvo de Buque, Mazinho, Tataí, Bulôfo e diversos outros moradores das ruas do Monte, Alto do Cruzeiro, Matadouro, Santo Estevão, Mutirão e outros logradouros vizinhos, além dos tantos visitantes de outras comunidades.
Esta festa é uma justa homenagem a quem manteve e mantém viva as tradições populares do nosso povo.
Este texto foi produzido a partir de relatos de pessoas da comunidade, dentre elas Chico de Marcílio, Maria Adélia, Antonio do Morro, Fiim de Inês, além da coleta de informações disponíveis na internet.
Nomes históricos podem não haver sido citados por desconhecimento. Se você tem informações ou teve participação no Bumba-meu-boi de Santo Estevão, envie para o e-mail: francisacp2@yahoo.com.br. Fotografias antigas são muito bem vindas.
As mensagens, imagens e músicas inseridas no Auto possuem valor cultural, e o registro de autoria se encontra disponível em nossa sede. 

ENTRADA DO BOI JANEIRO
Mateus, oh Mateus, abre a roda Mateus
Abre a roda que lá vou eu . . .
Oh beleza, oh safadeza
Nas horas de Deus amém,
Pai, Filho, Espírito Santo
São as primeiras cantigas que nesta festa eu canto ...
Nossa Senhora da Guia me cubra com vosso manto.
Deus fez o céu e a terra
com suas verdes campinas
Suas flores cheirosas
e as águas cristalinas
Com suas flores cheirosas
e as águas cristalinas ...

LÁ VAI
Cavalo Marinho
Vem meu boi bonito
Vem dançar agora
Já deu meia noite
Já rompeu a aurora (2x)
Cavalo marinho
Chega mais pra adiante
Faz uma misura
Pra toda essa gente (2x)
Cavalo marinho
Dança no terreiro
Que a dona da casa
Tem muito dinheiro (2x)
Cavalo marinho
Dança na calçada
Que a dona da casa
Tem galinha assada (2x)
Cavalo marinho
Já são horas já
Dá uma voltinha
E vai pro teu lugar (2x)
Eiii
Lá vem a fera, deixa vim
Ei fera danada
Deixa vim (2x)
Vem meu boi bonito
Vem vamos embora
Já deu meia noite
Já rompeu a aurora (3x)

O meu boi morreu
O meu boi morreu
O que será de mim
Mande buscar outro,oh Morena
Lá no Piauí
O meu boi morreu
O que será da vaca
Pinga com limão, oh Morena
Cura urucubaca

Quero meu boi
Quero meu boi
Por bem ou por mal,
Quero meu boi
Que levaram do meu curral
QUERO MEU BOI
Quero meu boi
Por bem ou por mal,
Quero meu boi
Que levaram do meu curral

Meu boi malandro criado no meu quintal
Ele não ia de noite no matagal
no fim do dia na hora de escurecer
ele corria com medo de se perder

Quero meu boi
Quero meu boi...

Meu boi coitado corria todo sertão
mas não deixava ninguém lhe por a mão
gente malvada botou meu boi a perder
Fiquei com raiva mas nada pude fazer

Quero meu boi
Quero meu boi...

Meu boi era um animal tão delicado minha gente,
Que beleza não,
Não se misturava com outros bois,
Era especial
Ele mugia de modo diferente também,
Ele fazia assim olha só
Hum, hum, hum,
Hum, hum, hum,
Hum, hum, hum,

Quero meu boi...

Lá vem o boi urrando
Lá vem o boi urrando, subindo o vaquejador
Lá vem o boi urrando, subindo o vaquejador
Deu um urro na porteira que o vaqueiro se espantou
E o gado da fazenda com isso se levantou
Urrou, urrou, meu novilho brasileiro . . .
que a natureza criou
Urrou, urrou, meu novilho brasileiro . . .
que a natureza criou
Urrou, urrou, meu novilho brasileiro . . .
que a natureza criou
Urrou, urrou, meu novilho brasileiro . . .
que a natureza criou
Boa tarde meu povo que vieram aqui me ver
Com essa brincadeira trazendo grande prazer
Salvo grandes e pequenos este é o meu dever
Saí pra cantar boi
Bonito pro povo ver
São João mandou . . . é pra mim fazer
É de minha obrigação . . . eu amostrar meu saber

LICENÇA
Eu vi o boi Navio, eu vi o marinheiro
Eu vi o boi de Chico correr Santo Estevão inteiro

DESPEDIDA
Por aqui eu vô saindo. São horas d’ eu viajar
Até para o ano quando eu aqui vortá...
Vou ficar ao seu dispor, o tempo que precisá
A turma do boi Janeiro é retada no aboiar
Os artistas são brasileiros
e a força é Deus quem dá.
- - - - - - - - - - -
Levanta meu boi guerreiro e urra forte de novo espanta pra bem distante os inimigos do meu povo.
- - - - - - - - - - -
Se eu pudesse JANEIRO
Não te enterrava no chão
Mandava abrir tua cova
Dentro do meu coração

Levanta de Santo Estevão
Subi pela rama, desci pelo galho,
Levanta Janeiro e balança o chocalho

REPARTIR UM BOI (adaptação)

Vou repartir um boi para os amigos meus
Vem prefeito Orlando
Vem meu filho Mateus
Vou fazer com cuidado a divisão
pra nenhum dos amigos ficar na mão
Seu bulofo
Sim senhor, Tio Chico
Eu to aqui bem pertinho do senhor
 vou repartir um boi Bulofo einh
vai mesmo, isso é bom mesmo
você quer um pedaço
Ah, se o senhor me der um pedaço eu aceito
Deve tá com fome em Bulofo
To morrendo de fome, to com o estomago roncando
Você sabe cortar um boi Bulofo
Sei cortar direitinho né
Você sabe distribuir os pedaços para os convidados Bulofo
Ah mas eu sei, mesmo assim
Pedaço por pedaço
Então você tem faca
Tem
Tem facão
Tem
Eu trouxe os dois
tão aonde
na gibeira

Estão aonde,
na gibeira

Então vamo lá

A tripa mais fina
é de comadre Catarina
A tripa mais grossa
é de compadre Zé da Roça
Repartindo o rim
é de compadre Serafim
Repartindo a banha
é do Chico Piranha
E o corredor
é do seu Doutor
pra se reparti com seu Promotor
E o xan de dentro
é de compadre Chico Bento
E o xan de fora
é de compadre Zé da Hora
E o lado do cangote
é de Pedro Timoteo
É o lado de trás
é de Pedro Tomás
E a rabada
é da rapaziada
Pra se repartir com o Chico Mancada
Pedaço da mã
é de Antonio Romão
Pedaço do pé
é de Antonio Tomé
E o mocotó
é para o Jacó
E o chifre de quem, quem é, quem é, quem é, quem é, de quem é,
É agora einh seu Bulofo...

Pode se fazer um berrante
Como que é assim
O chifre sabe pra quem é
é pra aquele que quiser.

Um comentário:

  1. Excelente. Parabéns pela idealização e resgate de parte de uma cultura.
    Continuem assim, Santo Estevão tem muito a mostrar ao Mundo.

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